Crónicas da associação

O mundo do silêncio

Ano 1959, cidade de Los Angeles. Alfred Hitchcock dá indicações a Bernard Hermann: “faz o que quiseres, peço-te apenas uma coisa, por favor não escrevas nada para a cena do chuveiro, sem música.”

Era para o filme “Psycho”, e o compositor de bandas sonoras como "Citizen Kane" de Orson Wells, ignorou o pedido. Com 3 minutos de duração, 78 posições de câmara e 52 cortes, a famosa cena foi acompanhada por instrumentos de cordas. O mestre do suspense mudou de opinião.

Paris, noite de 1957. Miles Davis assiste ao filme “Fim de semana no ascensor”, depois de tomar notas, senta-se ao piano. Duas semanas depois entra em estúdio para gravar banda sonora para a primeira longa metragem de ficção de Louis Malle. Ao rei do cool juntam-se um ás na bateria e três músicos parisienses. Sobre a sessão, disse um deles que “o que a caracterizou foi a ausência de um tema definido”. Segundo foi possível apurar, Davis terá dado apenas dois acordes à banda. Mais tarde, as gravações foram vistas a apontar caminhos que levariam o músico até “Kind of Blue”, disco lendário, seu e da história do jazz.

Terça-feira 26 de Março de 2018, 19h30 numa sala Cinemax em Penafiel. Na última sessão do primeiro inverno, o novo clube de cinema exibe “Fim de semana no ascensor” de Louis Malle, um thriller melodramático a preto e branco, como um noir de Hollywood, ao som do sombrio e solitário trompete silenciado de Miles Davis que contorna como uma sombra a misteriosa e sensual noite de Jeanne Moreau. Um clássico do cinema francês e uma histórica banda sonora americana, prenúncios das novas vagas que estavam prestes a chegar.